Refeitório | Escola Fazenda de Canuanã
Formoso do Araguaia TO | 2022
✪ Vencedor do 1° Prêmio Projeto de Arquitetura na categoria Espaços de Ensino
Localizada às margens do Rio Javaés, no município de Formoso do Araguaia, no estado de Tocantins, Brasil, a Escola-fazenda de Canuanã foi fundada pela Fundação Bradesco em 1973 a fim de atender à demanda de educação de crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos. A escola funciona em regime de internato atendendo filhos de assentados, caboclos e indígenas que moram na zona rural do centro-norte brasileiro. Além de cerca de 800 alunos, a fazenda possui 270 funcionários das áreas de pedagogia, nutrição, saúde e administração.
“Na Escola de Canuanã, alguns estudantes reveem seus familiares uma vez por mês. Muitos deslocando-se por grandes distâncias até a volta ao lar, ou o inverso: pais caminham ou navegam até Canuanã. Outros, se reencontram uma vez por ano. A longa permanência de crianças e adolescentes na instituição (…) expostos à intensa e compulsória vida coletiva, modificam sua sociabilidade, seus modos de vida de origem, estabelecendo novos laços, novas relações pessoais e emocionais (às vezes não necessariamente nos moldes desejados pela instituição). Essa disciplina vivenciada na infância e na juventude predominarão na trajetória pessoal, social e profissional de cada interno em suas vidas futuras. Desenhar uma parte componente desse sistema não é uma empreitada inocente.” Segawa, Hugo in: https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.125/6882, 2018.
O novo refeitório de Canuanã é consequência do plano diretor que desenvolvemos para o complexo educacional, orientador do sistema de ocupação e implantação das edificações, passando da escala urbana para o edifício, chegando ao projeto dos equipamentos e mobiliário.
O enfrentamento das condições climáticas extremas: calor o ano todo, intensa exposição ao sol e ventos que carregam terra e chuvas torrenciais, foi um dos critérios para a implantação e desenho do edifício, que convive com o bioma natural, sem o uso de climatização artificial.
O projeto de arquitetura teve como ponto de partida a criação de uma nova forma das pessoas se relacionarem com o espaço de alimentação e o convívio durante estes momentos. Se antes, o refeitório era entendido apenas como um equipamento funcional e burocrático, na leitura atual ele incorpora uma dimensão didático-pedagógica além de estimular as crianças a vivenciarem as suas refeições num ambiente de acolhimento e encontro. Está localizado entre os núcleos administrativo e pedagógico, implantado estrategicamente para que o novo espaço possa abrigar também a escola-rural,uma unidade de aprendizagem integrada à cozinha, que prepara e serve oito mil refeições diárias.
Salão
O salão de refeições atende a 300 pessoas simultaneamente, foi fragmentado em pequenos núcleos de mesas organizadas em diferentes salas em torno dos jardins internos, criando um edifício-varanda. Os jardins internos são compostos por espécies de vegetação nativas, que dialogam com o entorno do edifício, criando um ambiente de calma com luz natural filtrada que permeia o espaço através de grandes domus que se projetam sobre os jardins.
A cobertura oferece sombra para o salão, protegido por uma pele de telas mosquiteiras encaixilhadas, permitindo constante ventilação e permeabilidade visual. Alinhados à cobertura, à leste e à oeste, um conjunto de brises em tijolos, protegem o refeitório da incidência direta do sol e chuva, conduz o vento e desenha a luz do sol no salão, acompanhando o movimento do dia.
Praça de acesso
O principal acesso ao salão de refeições se dá por uma praça sombreada marcada pela contraposição entre um espaço de estar escavado no solo e um núcleo de apoio (sanitários e lavatórios) revestido pelo painel do artista amazoense Denilson Baniwa, nas cores urucum e jenipapo em superfície cerâmica, integrando os espaços internos e externos. Segundo a cosmologia Javaé, o homem também era habitante do fundo das águas do Rio Javaés, em torno da Ilha do Bananal.
Cozinha
O projeto da cozinha industrial possui espaços de armazenamento, preparo, padaria, açougue, vestiários, administração e sala para aulas. Foi concebido para que fosse possível a gestão do cardápio com o pré-preparo de alimentos e uma gestão eficiente de insumos e conservação. Os espaços de trabalho recebem um tratamento acústico, luminoso e ambiental.
Materiais
Concebido em estrutura metálica esbelta e proporção acolhedora, a cobertura tem forro de eucalipto tratado e iluminação indireta. As paredes de vedação dos espaços fechados e os brises, são em tijolos de solo-cimento fabricados na obra com o solo da própria fazenda. Os tijolos são prensados e moldados com o dimensionamento necessário para obter o melhor desempenho. Devido à sua propriedade física, os tijolos possuem uma maior inércia, contribuindo para o conforto térmico dos espaços.
Créditos
Arquitetura
Terra e Tuma Arquitetos Associados
Danilo Terra, Fernanda Sakano, Juliana Terra e Pedro Tuma
Rosembaum Arquitetura
Adriana Benguela, Bárbara Fernandes e Marcelo Rosenbaum
Arquitetura Cozinha
Interarq Arquitetos Associados
Paisagismo
Gabriella Ornaghi e Bianca Vasone Arquitetura da Paisagem
Engenharias
Maratá Engenharia, Supperiore Consultoria de Esquadrias, Politécnica Engenharia, Phytorestore
Consultoria Ambiental
Ambiental Consultoria
Luminotécnica
Lux Projetos Luminotécnicos
Construção
Inova TS
Gerenciamento
Metroll
Painel de Azulejos
Denilson Baniwa
Fotografias
Pedro Kok