Vila dos Funcionários | Escola Fazenda de Canuanã

Formoso do Araguaia TO | 2022

✪ Vencedor do Archdaily BUILDING OF THE YEAR  2025
✪ Vencedor do 1° Prêmio Revista Projeto de Arquitetura na categoria Espaços de Ensino

Localizada às margens do Rio Javaés, no município de Formoso do Araguaia, no estado de Tocantins, Brasil, a Escola-fazenda de Canuanã foi fundada pela Fundação Bradesco em 1973 a fim de atender à demanda de educação de crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos. A escola funciona em regime de internato atendendo filhos de assentados, caboclos e indígenas que moram na zona rural do centro-norte brasileiro. Além de cerca de 800 alunos, a fazenda possui 270 funcionários das áreas de pedagogia, nutrição, saúde e administração.

Ao longo dos anos, de acordo com a demanda, diversas edificações foram construídas ao redor da casa-sede da fazenda. Em 2017 fomos chamados para desenvolver o projeto para a vila dos funcionários e suas famílias. Antes da elaboração do projeto urbanístico da vila foi realizado um plano diretor de ocupação da fazenda. Após o diálogo com alunos e funcionários da escola, foi proposto um Eixo Pedagógico, concentrando as edificações frequentadas pelos alunos e retirando os edifícios de serviços e o acesso dos carros nessa região, para garantir maior segurança das crianças.

As residências foram pensadas para atender às condições climáticas locais, calor ao longo de todo ano, intensa exposição à luz do sol, ventos que carregam terra e chuvas torrenciais. O programa da casa exigia um espaço adequado para o descanso e a convivência da família nas noites quentes e finais de semana. As paredes de todas as casas foram construídas com tijolos de solo-cimento moldados no canteiro de obra da fazenda, os caixillhos foram desenhados para permitir a ventilação cruzada em todos os ambientes, e a cobertura dupla, com uma telha metálica e largos beirais protegem a laje de concreto da incidência direta do sol e permite a troca de ar entre elas.

As habitações de 1, 2 e 3 dormitórios foram distribuídas na vila de forma que as famílias, maiores e menores, convivam entre si. Entre as casas foram propostos arruamentos e praças que priorizaram a circulação de pedestres e bicicletas por entre as unidades e o fluxo de carros direcionado para o contorno da vila. Os arruamentos são de terra batida com cascalho, como grande parte da fazenda e toda a macro e micro drenagem da vila é feita por um sistema de biovaletas. O paisagismo foi pensado para sombrear os espaços de convivência, dar privacidade às casas e funcionar como um sistema de recarga do lençol freático em alguns canteiros estrategicamente posicionados. Caso o volume da chuva seja elevado, o excedente de água é direcionado dos canteiros drenantes para uma biovaleta principal no perímetro externo da vila e extravasa para o Rio Javaés.

Foi um longo processo que se iniciou com o desenvolvimento do plano diretor para o complexo educacional, passando em seguida para o projeto urbanístico, orientador do sistema de ocupação e implantação das edificações, coordenado com as mais diversas disciplinas e especialidades que envolvem este plano, e chegando por fim ao projeto das edificações, equipamentos e mobiliário.

Uma oportunidade de refletir e propor caminhos para que a indissociável atuação urbanística e arquitetônica transformem de forma equilibrada o contexto social e ambiental do território.